I don't wanna be kept, I don't wanna be caged, I don't wanna be damned, oh hell I don't wanna be broke, I don't wanna be saved, I don't wanna be S.O.L. (Neon Tiger, The Killers)

Thursday, May 16, 2013

Eu não sou mulher para casar


Sei que para muitos essa afirmação vai soar chocante. Vão dizer que não encontrei 'a pessoa certa'. Ou que estou de coração partido e isso passa. Os que me conhecem, talvez vejam na sentença algum sentido. Os felizes possuidores de um juízo prévio sobre minha pessoa dirão que não há novidade.

O fato é que não sou para casar. Realmente. Digo isso de coração aberto, sem grandes pesares. Pensei bastante sobre o assunto e creio que é assim que as coisas realmente funcionam. Me dei conta disto há algum tempo já e posso dizer que a descoberta me trouxe um certo alívio.

Antes que os haters comecem a comemorar meus 100 anos de solidão, preciso contar outra coisa. Eu não sou para casar, mas você, seolindo também não é.  [Ah, as feministas amargas e suas previsões terríveis. Querem e sempre quisemos o fim da família, a extinção da Humanidade, a vinda do Anticristo e a destruição do planeta por um meteoro de nome Solanas. ]

Calma! Eu sei, é uma realidade difícil de aceitar.  Algum grau de relutância já era esperado. Dá cá um abraço!

Antes de se desesperar e gastar toda a grana guardada pro casório em sapatos, e maquiagem, em trabalhos espirituais pra reverter a situação; ou em livros, filmes e cerveja [que é o que eu faria] deixa eu te dizer outra coisa: Não estamos sozinhas!

Não, não estamos porque quando digo que você não é para casar, eu falo de mim, de você, da sua amiga, da inimiga, da sua vizinha delicada, de excelente família, criada e crismada em nome de NossoSenhorAmém. E do gostosão  da academia. Também incluídos aí aquele seu primo de 3o grau e a tiazinha da empada. Bem como o seu colega de faculdade que usa polo e sua ginecologista lésbica gata.

Não somos para casar. Assim como não somos naturalmente para navegar, ou correr. Não somos mais determinadamente propensos a governar países do que a fugir com o circo. Não há nada em termos de personalidade ou nascimento que diga de cara que alguém é perfeito para gastronomia ou para o monastério budista. 

Agora pense comigo em como seria ridículo se alguém se sentisse mal apenas por não ser frentista de posto de gasolina. Pois é. A obrigação social do casamento é uma imposição externa, tanto quanto qualquer outra. Não é natural, não é formação, não é educação e também não é inata. Não é algo para o qual você nasce ou não. Isto é decidido por outros, antes mesmo de você nascer. Por aqueles com crucifixos, faixas presidenciais, solidéis, mantos, turbantes ou seja lá quem mande no seu país e contexto cultural.

Resumindo tudo isso... a definição externa do que você 'é para' diz muito pouco sobre o que você realmente quer, ou está apto a fazer. E diz menos ainda sobre o quanto você está preparado para a vida adulta, para o casamento, para as relações amorosas [mono, poli ou livres] ou para interações sociais de qualquer tipo. É você e que vai construir seu caminho entre as possibilidades que aparecerem.

E que me desculpem os românticos de plantão, mas casar ou não casar não faz de você uma pessoa melhor, faz de você uma pessoa... casada. O casamento é apenas uma a mais em meio às tantas escolhas que faremos ao longo da vida. O conjunto de nossas habilidades, inaptidões e oportunidades pode eventualmente nos definir como resultado de nossos fracassos e sucessos, mas jamais um ritual de vestidos e flores teria esse poder. 

Ninguém nasce predestinado a ser designer ou a plantar crisântemos. Assim como ninguém nasce sendo alguém 'para casar'. E isso simplesmente porque o que nos define como indivíduos não é externo a nós e a nossa vontade. 

A cada vez que um elemento externo assume caráter decisivo em nossas  escolhas perdemos uma oportunidade preciosa de nos autodefinir. Casar-se pode pode ser uma destas escolhas de auto definição, mas o casamento em si não tem influência direta sobre seu valor enquanto indivíduo ou sobre as contribuições que porventura você venha a fazer à sociedade.

Há os que vão apelar a conceitos de família e estabilidade para defender o status do casamento como principal ritual da vida adulta. Eu perguntaria a estes se o que vemos hoje com a reconfiguração das estruturas familiares, dos novos acordos, das sexualidades alternativas e das socializações contemporâneas não é a prova irrefutável de que mesmo o conceito de família e de continuidade é dinâmico e adaptável. Na sociedade contemporânea temos configurações de família tão várias quantas possam ser as possibilidades de interação humana. Famílias nucleares podem hoje ser compostas por dois pais, mãe solteiras e filhos, grupos de irmãos cuidados por um mais velho. As possibilidades são infinitas.

Assim, reitero, não sou para casar. Posso ser para o montanhismo, talvez. Ou você possa ser para a Astronomia. Podemos ser para a maternidade e para a Física Nuclear. Para viajar e para sermos avós. Somos compostos de diversas probabilidades, mas há uma coisa da qual estou certa de que não somos: seres predestinados a seguir todos uma receita única de felicidade.