I don't wanna be kept, I don't wanna be caged, I don't wanna be damned, oh hell I don't wanna be broke, I don't wanna be saved, I don't wanna be S.O.L. (Neon Tiger, The Killers)

Monday, May 10, 2010

Falando nisso...







Os braços dele enlaçam sua cintura, sente sua respiração cálida na nuca.
Subitamente o corpo dele junto ao dela treme. A voz dele era lancinantemente doce.
Ele sussurra em seu ouvido todas as coisas que só quem já amou sabe de onde tiramos.
O tempo suspenso por segundos horas de espaço ente aquelas palavras.
Por um instante manhãs mornas na penumbra do quarto e os roçares beijos trazendo dos sonhos os corpos. Cafés na cama, risos e ausência de segredos.
A cozinha, o supermercado, beijados nos enlaces fugidios entre a escolha de um ou outro ingrediente.
As tardes longas de gatos pela casa, filmes antigos em idiomas estranhos, vinho e roupas desnecessárias.
As velas cobrindo de sombras dançantes a pele exausta dos dois e, novamente a voz.
A mesma voz se elevando pra gritar o ódio a esse amor. Que lhe disse não saber mais das ações sentidas ou planos desfeitos.
As palavras que carregaram as malas coração afora.
O outro caminho, a outra verdade, o que não foi dito e sentido.
E depois Ela. Tudo o que ela gritou somente em lágrimas no escuro do quarto ao lado de uma garrafa vazia.
E as palavras dele vâo caindo na poça que a chuva deixara.
Ganham som ao cair.
Não trazem senão a lembrança daquela voz.
Que suspirava em suor, palavrões e crua doçura nas mortes diárias entre lençóis.
A mesma voz que murmurara gozo e, também adeus, entre dentes.
Não sabia se o vinho, ou a voz, mas a vertigem a tomava.
Fugiu. Encontra o caminho por entre os olhos e ruas molhados da chuva salgada.
Como não tivera ouvido. Como não tivesse ouvidos.
As lágrimas tintas do vinho diziam em looping ininterrupto:
Porque voltara?
A dor escorria fininha por entre os lábios, em sabor seco e frutal.
A voz agora substituída pelo barulho da chuva e a voz da inefável Billie.
Toca o telefone. Era Ele.
Queria saber se ela tinha algo quente pra beber... soa a campainha.
Alta noite entre dentes, velas e aromas, em todas as línguas do mundo e em nenhuma.
Finalmente encontra a voz os seus ouvidos.
E não havia sido necessária palavra alguma.