I don't wanna be kept, I don't wanna be caged, I don't wanna be damned, oh hell I don't wanna be broke, I don't wanna be saved, I don't wanna be S.O.L. (Neon Tiger, The Killers)

Tuesday, August 23, 2011

Wednesday, August 10, 2011

Da Posse, da Falta e de outras drogas...


Porque eu conheço gente que precisa de muita coisa. Tem gente até que precisa de um amor.
Todo mundo conhece alguém assim. Estamos na era da eficiencia. Do 100% de aproveitamento. Ser bem sucedido depende de vários aspectos estarem em ordem: trabalho, estudos, e até, pasmem, amor! 
É NECESSÁRIO ter um amor. E não só se precisa ter um amor, como e preciso mantê-lo vivo, satisfeito, cultivá-lo, ser bom amante e até, se der tempo, ser feliz com ele.

Mas, me virão dizer alguns que querer assim digamos, um 'alguém' para amar não é uma coisa tão ruim.
Não, não é. Exceto pelo fato de que quem ama por necessidade não ama ninguém. Porque a necessidade estar amando não é uma coisa simples. Uma necessidade boba e pronto! Quem precisa, precisa de algo.

A questão que surge neste caso é a seguinte: do que eu preciso?? Ou melhor De 'quem' eu preciso? OU indo ainda mais longe: "O quê" eu vou amar?  

Essa coisificação amorosa funciona não só sintaticamente. Semanticamente também. Quem precisa, precisa! Que se preencha uma ausência (consciente ou não) de algo que lhe falta.
É então necessário um objeto de amor. E não um objeto qualquer. Um alguém-algo que caiba naquela falta. Afinal script do seu amor está ali. Receitinha de bolo com a sequencia de ingredientes necessários. A sentença tá lá. Joguinho de criança, vai! Preencha as lacunas: "Apaixonado por..." Só falta o objeto.  
 
O que era o outro nessa hora vira o algo. O objeto do não ter. A sua metade. Sua alma gêmea-siamesa. Complementar. Esse amor que se manifesta na falta, na necessidade é de um egoísmo reificante dos mais sutis. Ele se traveste da aparente necessidade de se doar, e transforma e aprisiona o outro na sua idéia de um amor necessário, arrebatador e insubstituível.


O outro passa a ter função específica. Papel de complemento. Suas peculiaridades, seu jeitinho de pessoa, suas estranhas belezas, sua doce contradição, não mais existem, a menos que sirvam a esse propósito. O seu amor se faz ferramenta da sua completude.

Felicidade construída e partilhada não cabe no amor-falta. E nesse caso não sobra muito espaço pra singularidade. Será que é mesmo necessário amar? Ou será que o necessário mesmo, é doar o amor. O sentimento mesmo, a quem puder e quiser receber. A alguéns inteiros. Alguéns sem função. Só porque é gostoso doar e receber amores. Porque as pessoas estão aí e são amáveis. Umas mais, outras menos, umas mais de perto, outras mais de longe... 
Um amor não de complementaridade mas de cumplicidade. Um amor um do lado do outro e um COM o outro.
A reciprocidade então seria optativa e voluntária. Ela viria como resultado natural de uma doação em sentido contrário. 
 E amor vindo de alguém inteiro é inteiro também. Sem lacunas.

E apesar de eu achar que é quase impossivel resistir a um amor assim, terão pessoas que não vão retribuir, ou aceitar esse amor. Alguns só vão receber. Outros só vão doar. E sempre terão aqueles que necessitam absorver e tornar o que amam uma parte de si mesmos pela posse. Num autoconsumo fagocitante emocional.

Essas talvez necessitem, de um outro tipo, marca ou modelo de amor. E bom, na modernidade mercadológica o que não falta é variedade. É so escolher.