Porque eu conheço gente que precisa de muita coisa. Tem gente até que precisa de um amor.
Todo mundo conhece alguém assim. Estamos na era da eficiencia. Do 100% de aproveitamento. Ser bem sucedido depende de vários aspectos estarem em ordem: trabalho, estudos, e até, pasmem, amor!
É NECESSÁRIO ter um amor. E não só se precisa ter um amor, como e preciso mantê-lo vivo, satisfeito, cultivá-lo, ser bom amante e até, se der tempo, ser feliz com ele.
Mas, me virão dizer alguns que querer assim digamos, um 'alguém' para amar não é uma coisa tão ruim.
Não, não é. Exceto pelo fato de que quem ama por necessidade não ama ninguém. Porque a necessidade estar amando não é uma coisa simples. Uma necessidade boba e pronto! Quem precisa, precisa de algo.
A questão que surge neste caso é a seguinte: do que eu preciso?? Ou melhor De 'quem' eu preciso? OU indo ainda mais longe: "O quê" eu vou amar?
Essa coisificação amorosa funciona não só sintaticamente. Semanticamente também. Quem precisa, precisa! Que se preencha uma ausência (consciente ou não) de algo que lhe falta.
É então necessário um objeto de amor. E não um objeto qualquer. Um alguém-algo que caiba naquela falta. Afinal script do seu amor está ali. Receitinha de bolo com a sequencia de ingredientes necessários. A sentença tá lá. Joguinho de criança, vai! Preencha as lacunas: "Apaixonado por..." Só falta o objeto.
O que era o outro nessa hora vira o algo. O objeto do não ter. A sua metade. Sua alma gêmea-siamesa. Complementar. Esse amor que se manifesta na falta, na necessidade é de um egoísmo reificante dos mais sutis. Ele se traveste da aparente necessidade de se doar, e transforma e aprisiona o outro na sua idéia de um amor necessário, arrebatador e insubstituível.
O outro passa a ter função específica. Papel de complemento. Suas peculiaridades, seu jeitinho de pessoa, suas estranhas belezas, sua doce contradição, não mais existem, a menos que sirvam a esse propósito. O seu amor se faz ferramenta da sua completude.
Felicidade construída e partilhada não cabe no amor-falta. E nesse caso não sobra muito espaço pra singularidade. Será que é mesmo necessário amar? Ou será que o necessário mesmo, é doar o amor. O sentimento mesmo, a quem puder e quiser receber. A alguéns inteiros. Alguéns sem função. Só porque é gostoso doar e receber amores. Porque as pessoas estão aí e são amáveis. Umas mais, outras menos, umas mais de perto, outras mais de longe...
Um amor não de complementaridade mas de cumplicidade. Um amor um do lado do outro e um COM o outro.
A reciprocidade então seria optativa e voluntária. Ela viria como resultado natural de uma doação em sentido contrário.
E amor vindo de alguém inteiro é inteiro também. Sem lacunas.
E apesar de eu achar que é quase impossivel resistir a um amor assim, terão pessoas que não vão retribuir, ou aceitar esse amor. Alguns só vão receber. Outros só vão doar. E sempre terão aqueles que necessitam absorver e tornar o que amam uma parte de si mesmos pela posse. Num autoconsumo fagocitante emocional.
Essas talvez necessitem, de um outro tipo, marca ou modelo de amor. E bom, na modernidade mercadológica o que não falta é variedade. É so escolher.