- Joh, todo mundo me chama de Joh. É de Joana, eu acho.
- E o que você faz Joana?
- Joh, eu prefiro Joh,doutor, tenho medo de Joana.
- O que você faz Joh?
- eu? Eu espero.
- como assim espera?
- Desde que eu nasci. Quer dizer... Antes de eu nascer. .. Eu esperei nove meses sabe... Pra nascer de verdade... nove meses... Eu esperei... Desde sempre.
- E houve alguma vez em que foi difícil pra você esperar?
- Uma vez. O Alferes. Ele foi para a Guerra. Foram dez anos. Disse que quando voltava a gente casava.
- É. É difícil quando o amor nos faz esperar.
- Não. O amor não faz a gente esperar. As pessoas é que fazem.
- É difícil esperar por alguém. Ele não voltou?
- Não voltou. Quem voltou foi a carta.
- Pensando assim, é verdade. O que dizia a carta?
- A carta diz que ele morreu.
- A morte é mesmo uma dura realidade.
- Não doutor. O duro é esperar o Alferes voltar, e voltar a carta.
- Mas e depois Joh, o que aconteceu?
- Depois? Bem, depois eu esperei.
- Esperou o que? Se o alferes não ia mais voltar?
- Aí foi o mascate. Meu pai achou que era uma profissão mais segura. E eu casei. Ele viajou pra vender. E eu esperei ele, quando voltasse da venda me levava. E eu esperei.
- Esperou quanto tempo?
- Ele ia e vendia, doutor. Depois voltava e me buscava. Passou um ano. Aí vendia menos. E voltava a vender. Dois anos. Eu esperava.
- E você ficou aqui?
- Eu espero doutor. Estou ainda esperando.
- Mas Esperando o que Joh? Acha que ele volta?
- Não. Ele escreveu. Não volta mais não. Foi pra São Paulo. Tem família lá agora. Escreveu tem um ano. De novo a carta veio e as gentes não. Não quer mais saber daqui.
- De novo a carta. E agora Joh?
- Agora eu espero.
- Mas Joh, isso a gente já entendeu, mas porque o pessoal daqui acha que você é assim especial?
- Bem... As pessoas acham... Bem elas acham que se você espera... Bem, e eu espero... Bom, Elas querem que eu ensine... que... bom, que você consegue alguma coisa, sabe... Elas querem conseguir... Querem que eu ensine... elas acham que é a tal da paciência...
- E você vai ensinar?
- Não posso, doutor... Espero meu filho. Meu filho crescer. Ele é o meu milagre doutor...
- Milagre, Joh. Explica essa história?
- O nome dele é Armagedon, doutor. Eu ouvi. Nome bonito. Ouvi um dia doutor. Não sei onde foi. Nem quem me disse. Ouvi de alguém.
- Armagedon? Porque Armagedon?
-Porque ele vai acabar com toda essa espera doutor. Eu sei que vai.
E o repórter olha a senhora nos olhos, parece que ela escuta um canto que só a ela alcança e seu rosto resplandece de luz sobre as rugas profundas marcadas pelo sol do sertão.