I don't wanna be kept, I don't wanna be caged, I don't wanna be damned, oh hell I don't wanna be broke, I don't wanna be saved, I don't wanna be S.O.L. (Neon Tiger, The Killers)

Monday, April 26, 2010

A fonte






Ele saiu, lágrimas e olhar arrependido.
Já não havia o que dizer.
As palavras já não condiziam com os atos há tempos.
Ela suava levemente, seu lábio superior tremia
Ouvira tudo e só o que restara era uma raiva fina e doce.
Doce e enjoativa, como aqueles doces baratos que comemos escondido aos montes quando criança
Que nos deixam com o estômago enjoado e uma indefinível dor de cabeça. A ressaca moral pelo almoço perdido, o trabalho da mamãe e as criancinhas da África.
Ela quisera muito acreditar que tudo o que passara
Tudo o que não fora e o que não vivera
Eram culpa de uma súbita incapacidade mental que o acometia a cada vez que tinha que fazer algo que havia dito que faria
"Não pensei"-- dizia ele. "Não importa!" -- dizia ela - "Não mais..."
As palavras doces de há dois dias atrás ecoavam em seus ouvidos como uma piada antiga e de mau gosto
O abraço cênico. O sexo triste. Quase estranhos, quase os mesmos de tão conhecidos.
Ela quisera acreditar. Mas já acontecia. O óbvio real ululante de tempos atrás.
Ela queria muito que fosse verdade. Mas a raiva já não a deixava só.
O medo de estar só não passava mais através de seu corpo.
Ele fizera o que fizera, porque assim o quis. Dizia apenas que não haver pensado.
Penso, logo existo, será que aquele que amara existiria?  
Ele não fizera o que deveria, também por vontade própria. E dizia a si mesmo que fora levado pelas circunstâncias. Até que ponto entrar ou não na esteira das circunstâncias é uma escolha?
Dizia que se sentia só e que não podia viver sem ela. Ela se perguntava se ele pensava ou existia nas coisas que dizia.
Amor, Circunstâncias, Solidão...
Ela até quisera acreditar, mas, dizer que se é levada pelo amor, não é o mesmo que dizer que não se pensou no óbvio por conta das circunstâncias?
Ela sorri tristemente e deixa o parque, ele ainda tenta dizer algo, não entende ainda que essa era sua vontade. Ela seguia, mastigando aos pouquinhos sua raiva-doce.

O parque fica silencioso aos poucos, a tarde cai violeta no asfalto cinza da calçada em volta.
Os gramados recebem sedentos os últimos raios  ...
A fonte onde os passarinhos tomam seu banho vespertino já está deserta.
Cupido decide, então, que é hora de parar de molhar as plantas.

Wednesday, April 21, 2010

Nem vem que não tem, nem vem de garfo que hoje é dia de sopa





Tá, to cansada de ouvir certas coisas então, que fique claro:
Que minha mãe Iemanjá me perdoe mas...

Nada de alegria de Gabriela
"Eu nasci assim,  vou ser sempre assim," o caralho!
Gabriela que me perdoe, mas eu to de Bowie!
Camaleoa rapto-te quando quero
A quem seja.
Moda, Mídia, e o etc, e o tal, até os que dizem que não!
A eles eu só digo Sou!!
Assustar? Não.
Gente feia e triste assusta.
Não sou triste, não todo o tempo, não me escondo sob o que me consome.
Antes me consumo no que me entristece e nasço diferente depois.

É preciso acostumar-se
E cultivar melhor as uvas

Assimilada e fermentada
Doce e sutil. Levemente ácida e frutal.

Viva, Evoé meus Cabernets, Merlots e Malbecs, e celebrarei cada dia ...
Solidão é transitória
Só que em Sampa o trânsito demora mais do que em outros planetas...

Wednesday, April 07, 2010

Deixa, deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida...




Voz de Amy Whinehouse e espírito de Billie Holliday.
Querendo ir pra rua, pra chuva ou pra fazenda, qualquer lugar.
A dor nem é tanta,
a da garganta,
mais a dos olhos, é maior.
A saudade nem é tão forte, 
se pensarmos que daqui a pouco tem reunião e a apresentação é pra daqui a dois dias.
A chuva no Rio, O rio na chuva, eu chovendo rios por aqui.
Que diferença isso faz pra quem perdeu casa, e pra quem perdeu tudo?
Que diferença faz casa pra quem perdeu o tudo que tinha dentro.
Não quero casa, quero rua.
Quero a rua da amargura, que ela combina mais comigo hoje que meu pretinho básico.
Quero uma mágoa a lá Rita Hayworth, lápis borrado e alcool.
Amores de olhar rápido e mente longe. 
Nada que permaneça, pois não há lugar pra isso.  
Tudo alagado de amor amargo e água salgada.
Pegue seu coração e busque um lugar seguro, aqui não é um bom local de pouso.
De amarga basta a vida, 
a morte, o amor 
e o chá de gengibre.
Afinal, preciso da minha voz de volta, a apresentação é em dois dias.