I don't wanna be kept, I don't wanna be caged, I don't wanna be damned, oh hell I don't wanna be broke, I don't wanna be saved, I don't wanna be S.O.L. (Neon Tiger, The Killers)

Wednesday, July 28, 2010

A insustentável leveza do não ser...








Quando é que se sabe que as coisas são o que são?
Quando algo passa a ser real?
Não sei se são as longas conversas, as ótimas transas, a paixão incondicional por música, filmes, vinhos e livros.
É indefinível o prazer de assistir filmes de horror que ele detesta só para apontar cada aspecto do gênero com detalhes e saborear a exasperação crescente recheada de risadas desdenhosas que ele me lança sempre tentando desbancar cada argumento com uma mescla de péssima crítica, ironia de quinta e beijos distracionais. 
Ele é o único que entende minhas piadas.
Delícia é o jeito que ele me olha depois do sexo, demoradamente, como o mundo se resumisse ao meu relaxamento, meus olhos semi-cerrados e um sorriso de lassitude não disfarçada.
Ele toca e cheira minha pele a todo o momento. Não sei o que vê de tão especial em peles morenas, mas me irrita falando no tom que ela tem mais vezes do que minha atenção é capaz de suportar.
Ainda assim ele me esquece. Por dias, semanas até.
Quando o procuro está ocupado.
Então liga após alguns dias. Me convida pra um vinho e um filme em sua casa.
Me vem um pensamento envolvendo um entregador em uma van, um tipo de serviço delivery e mulheres em um cardápio. Ruiva? Loura? Não. Prefiro Morenas!
Digo não, talvez um compromisso ou algo do trabalho.
Se desespera. Liga diariamente. Manda mensagens. Mails diários. Liga em horas inapropriadas. Diz ter saudades da minha pele, do meu cheiro. Comprou um filme novo. Insiste horas no chat pra me ver em seu apartamento.
Penso que enlouqueceu, ou ficou carente de repente. Não mais do que de repente.
Quando sabemos que as coisas de fato acontecem? Quando se repetem? Durante o momento exato em que ocorrem? Ou quando deixam marcas? Sensações são também reais? Ou são apenas lembranças de que tudo na vida deixa marcas, principalmente, o que nunca aconteceu de fato...

Wednesday, July 21, 2010

Quem é você na noite?







Há tempos entre uma e outra dissertação da faculdade sobre identidades em literaturas de países de cultura pluriogirinal, me deparei com os conceitos modernos de gente bacana como Stuar Hall sobre identidade.

Pode parecer academicismo de boteco, e provavelmente é, pois isso me ocorreu justamente entre tres Heineken e uma tequila na tão afamada Rua Augusta, a mãe de todos nós, mas é incrível como as pessoas hoje são cada vez menos compreensíveis cartesianamente, e cada vez mais propensas a julgar os outros por métodos cartesianos: 

Vejo, logo julgo!

Eu ali imaginando as experiências que formaram o ser latino com a semi-barba cuidadosamente pensada para parecer que não era aparada há meses, e a camisa cara e pretensiosamente despojada, que me servia outro copo de cerveja enquanto me perguntava sobre a tese de mestrado e música enquanto olhava sem sutileza para o meu decote. Pensava eu nessa hora que todos nós somos compostos de camadas e camadas de vernizes, como esmaltes baratos nas unhas de velhas coristas. 

Experiências formadoras de comportamentos e opiniões que são mais ou menos eficazes a depender da audiência ou de quanto ela é capaz de beber. O truque da pomba em meio aos lenços pode ou não funcionar com uns ou com outros.

A interpretação que damos para gestos simples como a sutileza ou o tom de voz, dresscodes ou makeups é incrivelmente vária. 


Um homem delicado e inteligente é facilmente confundido com um homossexual e vira um amigo ótimo e sempre segura o drink enquanto a gata target pega o troglodita testosterônico mais óbvio.
Mulheres inteligentes, decididas e que gostam de tomar a iniciativa, são comumente confundidas com ninfomaníacas desesperadas e sem auto-estima, que nunca recebem o telefonema do gato lindo no dia seguinte.

A grande ironia disso é homens dizendo adorar mulheres com iniciativa e mulheres dizendo amar homens sensíveis.

O que não seria um grande problema se o discurso identitário correspondesse à atitude identitária.

Será que temos medo de agir conforme o discurso? Será que a teoria na prática é outra? Ou será que não temos mesmo a mínima idéia do que queremos?

O que sei é que minha personalidade é composta de vestidos de baile, adereços a algo que é intrínseco e cerne, quem entende o cerne entende o adereço, e o porque dele naquele baile, e me convida pra dançar, a noite toda, a vida toda, sem sapatinho de cristal.



Quem não... bom... com esses a depender do caso vamos jogando conforme as regras, em benefício mútuo, até a página dois...