I don't wanna be kept, I don't wanna be caged, I don't wanna be damned, oh hell I don't wanna be broke, I don't wanna be saved, I don't wanna be S.O.L. (Neon Tiger, The Killers)

Saturday, December 10, 2011

Repeitem meus cabelos, e ainda mais a minha inteligência, por favor!



Tá, ok. Todo mundo falando do caso da Ester, estagiária da Anhembi que teve o cabelo criticado por características raciais. Racismo claro e simples? Dresscode da empresa? Opiniões é o que não faltam pra justificar o absurdo e cada vez mais a relativização toma conta dos discursos.

O que reparei nesta discussão, e que ninguém está linkando ainda, é o porquê as caracterís físicas raciais de alguém são tão ofensivas para algumas pessoas e em alguns contextos. E o babaca de um blog valida o critério de exclusão dizendo que 'a vida é assim', que a empresa tem o direito de exigir um dresscode ou um estilo específico que represente a empresa.

Porque o fenótipo negro não representaria uma empresa? O que há nele de tão danoso à imagem?

Entre outras mil coisas que eu faço pra ganhar a vida está a profissão de maquiadora. Quantas vezes já ouvi, ao entrar num salão, a frase "Você já pensou em fazer escova progressiva?". Minha resposta padrão seria "Não, E você já pensou em fazer clareamento anal?".

Isso sem falar nas tantas as vezes em que 'profissionais' se recusam inclusive a cortar, ou fazer qualquer procedimento no meu cabelo se o pacote não incluísse uma escova 'básica' para 'diminuir o volume' ou 'soltar os cachos', eufemismos para alisamento.

Casos como o da Ester,e o meu, acontecem o tempo todo.

Cobrir os quadris. Essa parte é interessante. Em meu primeiro emprego, minha chefe me disse uma vez que era para que eu usasse blusas mais compridas porque eu 'era muito bonitinha' e os clientes ficavam olhando. Oi? Seu cliente babão está assediando uma funcionária menor de idade e a culpa é dela? Tinha e tenho até hoje bunda grande, fazer o quê? Cortar? No way!!! E olha que saias no joelho e de modelagem larga eram padrão na empresa.

Mais  alguns casos: esta semana tive que mudar meu trajeto normal da linha vermelha do metrô para as linhas verde e azul, por compromissos de trabalho. Em duas ocasiões percebi algum tipo de comportamento racista. Um dia, uma dupla de senhoras que conversava animadamente baixou a voz e trocou de lugar, indo para a parte da frente do vagão apressadamente, incomodadas com a minha presença ali. Na segunda, ofereci meu lugar a uma senhorinha visivelmente acima dos setenta anos e ela olhou pra mim assustadíssima e saiu do trem.

E não, eu não sou feia de doer, muito menos ando por aí com uma máscara de Freddie Kruegger.
Agora porque para algumas pessoas ua negro é ameaçador? Sinônimo de feiúra, agressividade, ou no caso da Ester, de falta de cuidado.


Será o estereótipo do branco, bom e bonito não contribui e muito para isso? Será que o bombardeiro de mocinhas de novela brancas, com olhos claros e romanticamente estúpidas não entra nisso não? Quantos Outdoors vocês veem por aí associando a pele escura a algo agradável, sem ser comercial de cerveja ou sexualização carnavalesca?


Porque, além da mercantilização da imagem do branco, bom e bonito, temos a questão da oversexualização da mulher negra.Quantas propagandas por aí dizem que cabelos etnicos precisam de controle? E os editoriais de moda que sempre associam cabelos crespos aos adjetivos 'selvagem' 'sexy'? Será que é coincidência negras serem associadas a café (bebida quente e forte) ou bebidas como a caipirinha (mulata brasileira é o sensual tipo exportação), e nesse caso até ganhamos o status de 'produto nacional'. Produto? Oi?

Sorry, babe! Emprestei meu fio dental de strass pra sua mãe...

 Se a libido feminina já é, num contexto patriarcal, passível de controle, imagine uma sexualidade feminina nesses moldes, que comoção não causaria?









O fato é, que se Ester exagerou ou não, não cabe a mim julgar. E, indo ainda mais longe, se o discurso da Ester foi contruído ou não, eu não sei. Mas com certeza o da diretora da escola foi. E não foi por nós duas.