I don't wanna be kept, I don't wanna be caged, I don't wanna be damned, oh hell I don't wanna be broke, I don't wanna be saved, I don't wanna be S.O.L. (Neon Tiger, The Killers)

Saturday, March 12, 2011

APARTHEID - QUEM DECIDE ONDE VOCÊ PODE IR?



QUEM DECIDE QUEM VOCÊ PODE AMAR?




Era uma noite normal de sexta feira.

Quem me conhece sabe que eu adoro a Augusta. O clima de liberdade, o astral bom de todo mundo reunido, ver emos, homos, girls and boys, drags and queens, black and white sempre me fez pensar que independentemente de quão estranha fosse a natureza humana haveria sempre um local para dar vazão à essa necessidade básica: Expressão.

Até que na porta de um bar, meu melhor amigo rouba um beijo no mocinho tímido com quem estava flertando.
O tapa veio e nem sabíamos exatamente de onde.

Olhamos pro lado de onde partira a agressão, um homem branco, de seus vinte e poucos, vestindo roupas normais e boné vociferava juntamente com uma mocinha minúscula que clamava respeito por sua presença, e gritava que era um absurdo os garotos se beijarem ali, na frente 'deles'.

Primeira reação, perplexidade.
Em seguida, raiva. A discussão esquentou, eu estava absolutamente indignada. Foi esse tipo de mentalidade que colocou plaquinhas nos lugares dizendo onde negros não podiam entrar. Que impediu mulheres de votarem até quase mil novecentos e trinta.

Mas eles eram seis. Alguém disse pra relevar.Acabamos trocando de bar. O mocinho do flerte, assustado e dizendo: "É assim mesmo!".

Já num bar gay ouvimos o que mais me chocou: "O que vc esperava, lá é um bar hetero".
Onde é que estava a maldita placa que avisasse ao meu amigo para não demonstrar seu afeto ou do contrário justificaria ações de violência?

Onde é que estava a placa naquele mesmo bar, gay, onde eu, heterossexual por acidente do destino, fora em busca de compreensão com um amigo?

Me perguntei mil vezes onde estava o movimento GLBT, tão forte e atuante em tantas questões.
Onde estavam os protagonistas das paradas de orgulho?

Eu fiquei ali ouvindo, pasma, eles dizerem que meu amigo devia ter parado no lugar x e não y. Em nenhum momento a questão da inadmissibilidade da agressão foi levantada. A questão era o lugar. Qual era o lugar dos gays, e qual o lugar dos heteros.

Pessoas agora tem lugares que não podem mais frequentar? Qual era o lugar de alguém como eu que acha que pessoas são só pessoas?

E seguindo a linha simplista da categorização, todo hetero é violento e todo gay precisa se isolar no gueto?

Me perguntava qual das segregações é a pior, a de fora pra dentro, ou a que eles mesmos se impuseram...

Não sei se volto àquele bar, o hetero, não digo que não volto à Augusta, mas um dia temo encontrar plaquinhas only hetero, only black ,  only drag...

Mas a pergunta é, e o nosso direito de ir e vir?

QUEM DECIDE ONDE E QUANDO PODEMOS IR?